Ernesto Pletsch
- Helena Horta
- Feb 3, 2021
- 6 min read
Updated: Aug 27, 2023
Conheça Ernesto Pletsch, Diretor de Fotografia em Los Angeles!

“No meu dia-a-dia de trabalho, me devoto a recriar a iluminação natural.”
Nativo do Sul do Brasil, Ernesto é fascinado pela natureza em geral, pelos ecossistemas e por astronomia. Ele se considera um observador de energias e grande parte disso se deve à sua apreciação pela luz.
Como você decidiu se mudar para os EUA?
Me formei em Publicidade e Propaganda em 2012 e comecei a trabalhar como freelancer, fazendo de tudo um pouco. Trabalhei para um canal de Televisão como editor, cameraman… mas eu queria algo mais específico. A direção da fotografia chamou minha atenção. Queria melhorar o meu entendimento na recriação da luz.
Então eu fui para os Estados Unidos para me especializar na área da cinematografia. Na época, eu achava que sabia muita coisa, já me considerava fotógrafo e acabei descobrindo que sabia muito pouco. (Risos)
Qual processo você usou? (O-1, F1). E como foi esse processo?
Comecei estudando com o visto F1. Fiz o One Year Conservatory na NYFA.
Uma série de eventos me favoreceu a ficar e acabei fazendo o MFA (Master of Fine Arts) in Cinematography. Depois disso, consegui o O-1 (visto de trabalho), por sorte e mérito, devido aos trabalhos feitos em LA e alguns no Brasil também.
Por causa da pandemia, voltei para o Brasil, mas estou prestes a renovar o meu O-1, e planejo voltar para lá esse ano.
Qual foi um momento marcante na sua carreira nos EUA?
Vários! (risos) Mas, principalmente as amizades que eu construí lá. É o networking, né? Mais que networking, são amigos de verdade mesmo.
Já trabalhei na Colômbia, já fui pra Índia para filmar um longa-metragem como DP e fiquei na casa dos meus amigos. Três amigos meus me receberam e trabalharam no set comigo. Fiquei na casa deles por dois meses.
Outro momento marcante foi ganhar um prêmio por melhor cinematografia (VERMONT, por um piloto gravado em Downtown LA). Também ganhei o prêmio internacional de melhor cinematografia da HBO.
Vários! Vários! (risos) Várias amizades, vários momentos bons! No set, e fora dele.
O que você gostaria de ter sabido sobre a indústria antes de você se mudar?
A principal coisa é formar um network. O principal aspecto pra se inserir lá. Conhecer o maior número possível de pessoas, agradar ao máximo e estar disposto a fazer muitas coisas que, às vezes, não são o seu foco principal, mas que no início tu tens que te dispor a fazer.
E outra coisa que queria que tivessem me falado é que as lentes iam subir tanto de valor (risos). Quando eu cheguei lá, o jogo de lente que eu quero investir agora custava $12,000. Hoje em dia, tá $80,000.
Mas mais que o nível técnico, mais que tudo, networking é o mais importante!
Vejo amigos e colegas meus que não eram dos mais afiados tecnicamente e criativamente, mas eram bons socialmente, e isso levou eles pra frente. E eles acabaram pegando a parte técnica na marra, né?
Então, eu acho a parte social muito importante. Mas também vai da personalidade de cada um. Tem gente que é mais devagar e tem gente que é muito comunicativa, muito fácil de se apegar às pessoas.
Tem que seguir teu instinto, tua intuição. E o bom senso. Sempre.
Você já teve algum momento que pensou em desistir? Que momento foi esse?
Já. Essa vida de arte não tem um constante. Não é como outras carreiras, que tu vai subindo de cargo, trabalhando e ganhando mais.
Tem alguns meses que tu só pega trabalho chato, ou um mês que não pega trabalho nenhum. E tu vê teus amigos trabalhando (principalmente em redes sociais) e fica meio pra baixo. Rola um debate interno. E daqui a pouco, no outro mês, tu pega um trabalho que te deixa super animado, com moral, inspirado, com vontade de fazer mais.
Acho que isso é normal pra todo mundo. E uma hora vai engrenar. Tem que insistir.
E vale a pena investir. Isso é uma luta longa! (risos) Isso tudo não é pra gente estourar agora, aos 20, 30 anos. Isso é para gente estourar lá com 50 anos. Tem muita coisa pra aprender, e tem que ter experiência.
Às vezes, dá uma baixada na moral. Ficar meio cabisbaixo é normal. Mas não se pode deixar levar por isso.
Você já pagou algum mico em set ou área de trabalho?
Já sim. Ah, teve situações que foi inexperiência, mesmo. Ou de estar "rateando" (risos).
Uma que me vem à cabeça agora é quando eu tava trabalhando de gaffer num set, e eu fui ligar uma luz direta (uma luz forte), e eu esqueci de virar a lâmpada, ou colocar no dimmer (fraquinho). E eu liguei no máximo, na cara do ator, que já estava ali na sua marca. E daí, cegou o ator, olharam feio pra mim, foi bem chato.
Mas eu tava distraído, pensando em como ajustar aquela luz, como que ia controlar ela, a difusão, etc. Tem que prestar atenção sempre, se não, tu acaba pagando esses micos aí.
Você já passou por alguma situação constrangedora / preconceituosa / misógina?
Tem uma bem clichê. Eu tava trabalhando como gaffer, pra um amigão meu, Leco Moura e a crew (equipe) de fotografia era só composta de brasileiros. E a gente só estava falando em Inglês.
Era um set pequeno, pra um comercial de uma marca de relógios e óculos. Era em uma casa em Beverly Hills. O pessoal era cheio da grana, meio metido. Mas tudo bem, né. Profissional, a gente fica na nossa, não tinha que conversar com eles, nem nada. No fim do set, a chave da casa foi perdida. E eles nos acusaram.
Mandaram email dizendo que fomos nós - os latinos. Pediram para ver papéis, os vistos, aquilo tudo. Foi bem chato. E depois de um dia, acharam a chave. Que estava com eles mesmos. Deu uma encrenca pesada.
O Diretor de Fotografia ficou put* e não queria mandar o material pra eles, queria processar, um auê…
No fim das contas, nos pagaram e ficou tudo certo. Mas a gente foi extremamente profissional no set deles, e eles nos acusaram mesmo assim.
Você está trabalhando em algum projeto no momento, ou tem algum link de algo que você gostaria de dividir?
No momento, só prepping à distância. Tô trabalhando com color grid remoto. É uma das coisas que eu consigo fazer daqui. Eu vim pro Brasil no fim de fevereiro, pro carnaval, e pro aniversário da minha mãe. Acabou estourando a pandemia, e foi uma loucura, né? Como todo mundo sabe… (risos) E eu acabei ficando.
Ainda bem que eu trouxe minha câmera. Tô fazendo umas fotos. Praticando. Fazendo color grading no computador do meu irmão, mas tá bem limitado. Não vejo a hora de voltar para os EUA. Agora eu renovo meu visto, se Deus quiser, e volto a trabalhar.
Esse ano eu perdi diversos trabalhos. Longas, comerciais, curtas, projetos, tudo. De todo o tipo. Principalmente em outubro e novembro, quando começou a retomar todos os trabalhos lá.
Mas não, não trabalhei muito no Brasil nessa pandemia, pra ser sincero.
Fiquei mais em casa. Na fazenda aqui. Fiz filmagens, conteúdo da campanha da minha família. Fiz vídeos promocionais pro trabalho do meu irmão.
Fiz um conteúdo lifestyle - de surf. Vendi fotos para amigos. Tudo pessoal conhecido. Não me envolvi em muita coisa. Resolvi passar esse ano mais com a familia.
Tem um projeto que gravei no fim de 2019, que vai sair no canal OFF esse ano, no Brasil. Chama RAW. Gravamos lá na Bahia. Um programa de esporte radical, de skate, surf, trilha, tudo. Ficou bem legal. Vai sair agora em 2021.
Que conselho você daria para alguém que quer trabalhar nos EUA?
Meu conselho é, primeiro, tu vai precisar fazer um visto F1 para estudar. Ou já aplica pro O-1 daqui do Brasil, o que não tem problema. Pode aplicar com projetos Brasileiros, internacionais, que vale. Mas tem que mostrar que tu é importante. Quando conseguir esse visto, dá pra trabalhar lá.
Importante que tu contate o maior número de pessoas que tu conheça lá, que já trabalhem lá, pra te inserir em algum set e já começa um network. Já tenta emendar um outro set, tratando todo mundo muito bem e vai indo.
Não tem muito mistério. E ganhar em dólar hoje em dia tá valendo! (risos)
Você pode encontrar Ernesto no Instagram @ernestopletsch
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